Conheça as origens do Tantra

Leitura: 4 min

O Tantra é uma tradição religiosa, espiritual e intelectual que tomou forma no decorrer nos primeiros séculos d.C..O tantrismo influenciou diversas outras tradições espirituais tais como o Budismo e o Hinduísmo, e de certa forma, continua se perpetuando e influenciando pessoas até os dias de hoje.

No entanto, atualmente, ao ouvirmos a palavra Tantra, associamo-la quase que exclusivamente à sexo e, a verdade é que o Tantra é algo muito maior e mais abrangente do que somente a sexualidade ou o ato sexual.

Neste texto queremos te contar um pouquinho das origens e significado dessa filosofia.

Uma nova visão

Primeiramente vale a pena dizer o Tantra é um território extremamente vasto, complexo e bastante inexplorado. Quando falamos em Tantra, na verdade, estamos nos referindo a um conjunto de textos escritos provavelmente entre 300 e 1400 d.C.

O Tantra trouxe novas perspectivas em relação à concepção espiritual dualista, vinda dos Upanishads (escrituras antigas do Hinduísmo), que predominava na Índia até então.

Segundo a visão dualista, o mundo material nos distancia do mundo espiritual, e o caminho para o divino deveria ser encontrado a partir da renúncia. Assim, a realidade transcendente só se relevaria aos que retirassem sua atenção dos assuntos mundanos e atingissem um estado consciente de controle sobre o corpo e a mente.

Em outras palavras, a pessoa teria que transcender sua condição humana, para encontrar sua real natureza divina.

Então, surge o Tantra, um movimento bastante revolucionário sob vários aspectos.

A começar pela concepção não-dualista de que o mundo material, ou o corpo-mente, não são inimigos a serem vencidos. Ao contrário, o Tantra enxerga o mundo material e, mais especificamente o corpo, como um veículo para a realização e para o encontro com o divino.

Segundo as palavras de Georg Feuerstein, em seu livro A Tradição do Yoga : “ […] a libertação não é uma questão de deixar o Mundo para trás ou eliminar os próprios impulsos naturais. Antes, é uma questão de ver que a realidade inferior está contida na superior e é idêntica a ela, e de deixar que a superior transforme a inferior. Por isso, a característica básica do Tantra é a integração – a integração do eu com o Si Mesmo, da existência corpórea com a realidade espiritual.”

Os texto tântricos eram escritos em um sânscrito bem mais simples e compreensível à todas as pessoas, de todas as castas (inclusive, muitos de seus primeiros protagonistas, senão quase todos, vinham de castas baixas). Eles contemplavam uma necessidade que muita gente sentia: a de uma caminho espiritual possível, acessível e prático, e que não implicasse necessariamente o abandono da crença nas divindades locais e nos ritos antigos de adoração.

Falavam de amplos e diversos temas tais como: a criação do mundo; características das divindades; tipos de rituais de adoração (especialmente dirigidos às Deusas); magia e feitiçaria; sistema de chakras; despertar da Kundalini; técnicas de purificação corpórea e mental tais como mantras, meditações, práticas de visualização, uso de mandalas e exercícios respiratórios; da natureza da iluminação e também, da sexualidade sagrada.

O culto da Deusa é central em muitas vertentes tântricas e, muitas obras são dedicadas ao princípio psicossomático feminino, Shakti, a divindade feminina oposta e complementar a Shiva. Enquanto Shiva representa a consciência suprema, Shakti representa o mundo material.

Escolas de direita e escolas de esquerda

Uma outra curiosidade é que o Tantra (e algumas outras tradições relacionadas) era dividido entre escolas de esquerda e escola de direita.

As escolas de direta eram mais “ortodoxas”. Elas seguiam as normas e práticas religiosas tradicionalmente aceitas e difundidas na sociedade.

As escolas de esquerda eram mais heterodoxas. Em outras palavras, suas tendências e seus rituais eram considerados tabus na sociedade. Aqui existiam práticas envolvendo uso de álcool, drogas psicoativas, atos sexuais, magia e etc.

As práticas sexuais que descreverei a seguir eram compreendidas metaforicamente pelas escolas de direita e praticadas literalmente pelas escolas de esquerda.

A Sexualidade Tântrica

As práticas sexuais eram exercidas em uma das correntes do Tantrismo chamada Kaula. Este é um dos ramos mais antigos do Tantra e ficou famoso pelo ritual dos “Cinco M’s”. Como o nome sugere, ele é feito em cinco estágios:

  1. Madya (vinho)
  2. Matsya (peixe)
  3. Mâmsa (carne)
  4. Mudrâ (cereais tostados)
  5. Maithunâ (relação sexual)

O vinho era usado a afim de livrar a mente das preocupações cotidianas, no entanto, o objetivo não era a embriaguez, pois o praticante deveria manter a clareza mental.

O consumo de carne e peixe era proibido pelos hindus, mas acreditava-se que tanto eles, quanto os cereais tostados, tinham propriedades afrodisíacas e seriam capazes de levar os praticantes a estados superiores de consciência.

Para que o ritual acontecesse, o homem não deveria sofrer dúvida, medo ou luxúria. A mulher era consagrada pelo banho ritual e outras cerimônias de purificação, e o ideal é que ela também seguisse o caminho da espiritualidade. Ela deveria ser contemplada não como uma pessoa do sexo oposto, mas como uma Deusa

O prazer (ou êxtase) durante a relação era explorado, e amplificado, ao passo que ambos incorporavam as qualidades de divindades masculina e feminina.

O parceiro deveria impedir a todo custo a ejaculação, por ser este um néctar cheio de força vital a ser preservado. Segundo os registros, ele alimenta os centros energéticos superiores do corpo do homem. A mulher, no entanto, poderia chegar ao orgasmo, sua excitação produz uma secreção vaginal sagrada que pode ser absorvida pelo pênis de um parceiro competente, e que será benéfica para o sistema hormonal dele.

O objetivo do sexo tântrico não é o orgasmo, e sim o êxtase, ou a experiencia transcendental. A experiência da união total consigo mesmo, com o parceiro e com o divino.

Para finalizar, deixo aqui um trecho do texto Kula-Arnava-Tantra, um dos textos mais importantes da tradição Kaula:

“Não é pelo desejo que o yogin goza das coisas boas, mas pelo bem do mundo. Fazendo o bem a todos, ele brinca [livremente] sobre a face da terra. (75)

Assim como o sol seca todas as coisas, assim como o fogo consome todas as coisas, assim também o yogin goza de todas as coisas boas mas não é maculado pelo pecado. (76)

Assim como o vento toca em todas as coisas, assim como o espaço (âkâsha) está presente em toda parte, assim como [são puros] os que banham nos rios [para as abluções cotidianas], assim também o yogin é puro. (77)

Assim como a água saída de um povoado torna-se pura quando entra num rio, assim também as coisas que foram manipuladas por um bárbaro (mleccha), etc, tornam-se puras nas mãos de um yogin. (78)”

Até a próxima,

Com carinho,

Om Joy

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Adriana Mattos

Adriana Mattos

Iniciou seu contato com temas ligados à saúde e espiritualidade em 2015, quando começou a estudar Mindfulness, Budismo e praticar meditação. Desde essa época, vem se dedicando a aprofundar seus conhecimentos em diversos assuntos ligados à saúde, bem-estar, religiões e espiritualidade. Teve fortes imersões e experiências através dos retiros que fez. É Reikiana e instrutora de Yoga (formação pela Byron Yoga Centre) e Meditação. Apaixonada por todo esse universo, tem uma busca sincera pelo autoconhecimento e por ser uma presença cada vez mais benéfica para si e para o entorno.

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