Há alguns anos, em um retiro, aprendi uma fórmula Budista, baseada em Mindfulness (atenção plena), que tem me ajudado bastante a lidar com situações desafiadoras. A sigla R.A.I.N é a abreviação de um processo feito em quatro etapas, que nos ajuda a organizar e estruturar nossos pensamentos e emoções nos momentos difíceis, conturbados.
Nós tendemos a querer evitar pensamentos e emoções indigestas- junto com elas, muitas vezes vêm também, de carona, as crenças limitantes, falsas.
Por exemplo, quando alguém ignora uma mensagem sua, você pode ficar triste e pensar “Essa pessoa não gosta de mim, fui rejeitada…”. O que muito provavelmente não é verdade. Muitas vezes a pessoa está super enrolada com mil questões da vida ou pode ter sido por qualquer outro motivo não pessoal.
É preciso ter muita calma, reflexão, atenção e compreensão nos momentos em que vem a “avalanche”. A fórmula R.A.I.N nos ajuda nesse sentido e quanto mais praticamos, mais hábeis nos tornamos em fazê-la. Então, vamos à tradução:
R – Reconhecimento o que está acontecendo
A – Aceitação
I – Investigação
N- Não identificação
1- Reconhecimento
O Primeiro passo é reconhecer o que sinceramente está acontecendo dentro de você. O que levou você a se sentir triste, irritado, angustiado, nervoso, ansioso etc.
Damos espaço para o sentimento, ao invés de querer fazer com que ele suma.
2- Aceitação
Aceitar é estar presente com “o que é”; é não brigar com a realidade. Não rejeitar, não julgar, não querer fazer sumir o que está acontecendo.
É dizer “Eu aceito que alguém me machucou.” ou “Eu aceito que estou triste.” ao invés de dizer “Eu não deveria estar me sentindo assim.” ou “Isso não deveria estar acontecendo.”. Em um de seus ensinamentos, Buda diz que problemas surgirão, que a dor é inevitável e intrínseca à experiência humana. No entanto, quando combatemos a realidade, quando rejeitamos os fatos presentes, além da dor, surge o sofrimento.
No livro “O Poder do agora” o autor Eckhart Tolle desenvolve bastante este tema, vale a pena ler, se aceitação é algo que você busca aprofundar.
A respiração profunda com a intenção de aceitação nos ajuda a estar presentes e mais calmos. A aceitação nos leva ao estágio seguinte do processo:
3- Investigação
Fazer essas duas primeiras etapas do R.A.I.N já ajudam e muito. O terceiro passo é a investigação, onde buscamos entender o que REALMENTE está acontecendo. Olhamos mais a fundo para a situação. Existem algumas formas de fazermos isso:
1. Observação mental – Quais são os pensamentos que estão surgindo na minha mente? Qual a narrativa?
Muito provavelmente seus pensamentos estejam em “loop”. Exemplos: “Alguém me ofendeu”, “Me sinto triste”, “Vivo sendo rejeitado”, “Essa pessoa não gosta de mim”, “Fulano é uma pessoa má” etc.
2. Percepção física –Levamos nossa atenção para o corpo. O que está acontecendo no meu corpo? Onde eu sinto essa emoção?
Você pode colocar as mãos sobre a parte que dói, fazer uma leve massagem e respirar profundamente, levando o ar (mentalmente) até aquela região por alguns minutos.
3. Investigação condicional – Se observamos algum pensamento ou crença limitadora, podemos nos perguntar aonde aprendemos a ter este padrão de pensamento? Quando foi que algo similar aconteceu? Onde isso começou? Por que estamos pensando assim?
Talvez tivemos alguma experiência na infância onde alguém nos ofendeu. Alguma professora, pais, irmãos.
Olhamos para toda a situação com curiosidade, para entender nossos processos e condições mentais. Assim, podemos enxergar qual a origem da nossa dor. Então, com um olhar mais maduro (e talvez com a ajuda de uma conversa com alguém de confiança), somos capazes de perceber aonde está o equívoco. Em que momento deixamos de ver as coisas como elas são e por quê.
Tudo que construímos, podemos descontruir.
4- Não identificação
Não identificação ou “não apego” é, na prática, criar um espaço entre “eu” e o pensamento. É reconhecer que quem verdadeiramente somos é muito mais profundo do que os pensamentos, dificuldades ou emoções circunstanciais, passageiras. Vai além das fases que passamos pela vida.
Somos um processo em construção, uma energia viva que aprende, muda, evolui. Somos quem somos intimamente, quando ninguém está olhando.
Todo resto é passageiro, aprendizado.
Toda vez que temos um problema, tendemos a pensar que somos o problema, que somos “x” ou “y”. Criando falsas percepções. Falsas identificações.
Reconhecer isso é permitir que as situações venham e vão. E com elas, aprendemos, nos transformamos e amadurecemos.
Deixamos ir, com naturalidade e leveza o que não faz sentido, o que não nos serve.
Em resumo
A fórmula R.A.I.N é uma forma prática que nos ajuda a descontruir nossos padrões mentais reativos, automáticos. Ela é uma ferramenta para vivermos de forma mais consciente e saudável.
É claro, que este não é um trabalho fácil. Mas com a prática, é possível ver um progresso gradual.
Esperamos que tenha gostado!
Com carinho,
